Transcender é a palavra (Passar além de; ultrapassar; elevar-se acima de).
Transpor os limites que a vida impõe.
Todos os dias quando acordo, a imagem que vejo refletida no espelho me limita. O olhar diz muito, mas não diz tudo.
O corpo é forma. E como toda forma, é limitante. Sente dores, é escravo dos desejos que dominam a mente.
A mente só pensa o que pode ver, e ela vê a imagem refletida no espelho, o corpo é, portanto, limite. Diz-me até onde posso ir, fala-me apenas sobre o que eu já conheço. Escraviza-me aos desejos do corpo. Limite.
O coração se debate em altos e baixos, apatia, alegria súbita, tristeza, saudade, ódio, ciúmes, inveja, ternura. Tudo passa por ele como num filme em ritmo acelerado. Tenta, mas volta sempre ao mesmo ponto: ao limite. Limite do que a mente aceita, do que o corpo sente e do que os sentidos podem captar. O pensamento é limite. O sentimento é limite.
Recorro ao sonho. O sonho divaga, trabalha outras imagens, algumas boas, prazerosas, outras confusas, delirantes, sofridas, pesadelo, acordo, limite. O sonho tenta, mas volta ao que a mente já sabe ou aceita como conhecido.
Dou um passo, e me perco na imensidão que é o universo. Olho á minha volta e vejo o mesmo corpo, a mesma mente, o mesmo coração, dei um passo em direção ao mesmo ponto. Limite.
Quem sou? Energia aflita. Um olho para a luz do sol. A luz que se apaga todas as noites. A única luz que brilha e mostra que vivo. Ela se acende e se apaga, se acende e se apaga, enquanto tento dar outro passo. Para onde? Para quê? Por 90 dias, 90 meses, 90 anos. Paro, desisto, choro, odeio. Tenho compaixão de mim. Agora já não há nada além do próprio limite. As barras de minha cela, A cela da minha alma.
Minha alma. Fecho os olhos, esqueço a direção que devo ir. E agora eu a vejo. A alma. Não tem corpo, não tem cor. Atravessa as paredes do corpo, atravessa as paredes da mente, ultrapassa o coração. Torna-se um pequeno rio que flui, cria asas, voa. O corpo pede explicação aos sentido, os sentidos buscam resposta na emoção, a emoção indaga à mente. A mente perde-se, acha-se, busca, pega a pena, lê e escreve, quer conhecer, tenta perseguir a liberdade da alma e dá um passo. Todo o corpo, todo o coração, toda a mente, dá um passo. Respiro, conheço, TRANSCENDO.
O reflexo no espelho sorri, orgulha-se. Depressa esquece o ego. Volta a olhar a alma, segue, busca, pega a caneta, lê e escreve. Dá um passo! E outro, e outro. Passos em direção ao infinito. Ao todo indivisível completo. Passos, em direção à Deus.
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